Reino da Quinta Velha
Instituto Histórico e Geográfico da Quinta Velha
Secção de Micropatriologia
Identidade nacional micronacional: breves considerações acerca da criação elementos
identitários micronacionais.
Thomas de Sena e Albuquerque.
Resumo
Este artigo visa discutir e analisar possíveis elementos formativos de uma identidade nacional nas micronações, partindo da formação do Estado micronacional, da adesão de cidadãos e dos elementos culturais pertinentes para a análise. Sendo o micronacionalismo um exercício puramente artificial, é possível que micronações constituam elementos culturais e identitários próprios que gerem o sentimento de pertença em seus cidadãos? Através de análises de diversos projetos, o texto buscará responder a estas indagações.
Palavras-chave: micronacionalismo, identidade cultural, Micronação, Cultura, Identidade.
Introdução
O micronacionalismo é uma atividade que foi ganhando diversas conceituações com o passar dos anos. Robert Ben Madison, fundador de Talossa, conceituou a micronação como “Pequenas entidades organizadas como Estados-nação não reconhecidos”¹ Já para Cláudio I, Sacro-Imperador de Reunião, “uma micronação é uma simulação política e de sociedade, em que as pessoas voluntariamente escolhem participar, aceitando suas regras (leis) e seus parceiros (concidadãos)”². Independente de como explicado ou como abordado - se é um passatempo, uma atividade acadêmica, um experimento social - haverá sempre um elemento comum sobre o que é o micronacionalismo: a simulação política.
Já nos primeiros momentos de existência das micronações, já são definidos elementos visuais como uma bandeira e um brasão de armas. Em poucas horas depois da fundação já é possível encontrar um site, um perfil numa rede social. Rapidamente é criado um aparato governativo, de repente surge uma constituição e então toda a simulação política está a todo o vapor. Começam a surgir a instituições públicas, criam-se condecorações, discursos, nomeiam-se representantes, estabelecem reconhecimentos, delegam embaixadores.
O aspecto simulatório do aparato político e do aparato burocrático de um Estado começa a surgir e a funcionar quase que organicamente em praticamente todas as micronações, afinal de contas, esse é o elemento primordial da prática micronacional: a simulação política. Mas, o que faz com que as pessoas decidam permanecer por mais tempo nas micronações, sobretudo quando o boom de atividade diminui e já não se tem o que produzir com tanta frequência? O que faz com que as pessoas se identifiquem com aquele Estado micronacional? Este artigo tem como missão buscar responder estas duas principais indagações, analisando projetos micronacionais e seus respectivos elementos políticos, sociais e culturais, para assim entender se existe ou se é possível existirem elementos constitutivos de uma identidade micronacional.
A formação do Estado e o contrato social micronacional.
Nos Estados macronacionais o indivíduo está ligado ao seu Estado desde o seu nascimento até a morte, e mesmo que ele possa mudar de Estado ao longo de sua vida, sempre estará vinculado ao seu Estado de nascença. É o que se habituou conceituar como Contrato Social.
No micronacionalismo também se observa a existência de um contrato social, constituído de forma diferente de seus equivalentes macronacionais. Conforme nos esclarece Raphael Garcia em seu artigo “Formação estatal e contrato social: breve introdução à teoria geral do Estado micronacional”³:
“O Micronacionalismo observa de forma mais que clara a presença de um Contrato Social desde sua concepção, um Contrato próprio. A visão de Contrato Social – embora em uma análise mais profunda e detalhista, bem diferente do contratualismo macronacional, em seu núcleo teórico similar – é de fácil verificação na necessidade de aplicação formal para se entrar em qualquer micronação lusófona, materializada por formulários de imigração ou similares. Ao adentrar em uma micronação aceitamos formalmente o modus operadi desta, aceitamos suas leis, costumes e tradições.”
Portanto, além de ser uma entidade artificial, idealizada e estruturada especificamente para ser um suporte de simulação política, o Estado micronacional também precisa que seus participantes aceitem voluntariamente se tornarem cidadãos e a Ordem interna de funcionamento. A grosso modo, é acatar uma estrutura idealizada por outro de modo estritamente particular.
Em um primeiro momento, o contrato social micronacional faz sentido diante das possibilidades de atuação política inerentes à micronação. No entanto, o Estado micronacional consegue estabelecer elementos identitários capazes de garantir a manutenção do contrato social previamente estabelecido? Em outras palavras, há identificação nacional na relação entre o indivíduo micronacional e o Estado que ele escolheu fazer parte?
A Identidade Nacional no micronacionalismo.
A Identidade Nacional é o que faz o individuo se sentir parte de um determinada nação e se diferencie das populações de outros Estados, formada por elementos culturais comuns, por símbolos, mitos e memórias coletivas organizados para fomentar o senso de pertencimento daqueles que constituem aquela nação. Também está ligada à tradição e ao passado do Estado e a capacidade deste em manter a sua soberania.
Como os Estados macronacionais contam com uma tradição institucional, cultural e política, a formação de uma identidade nacional ocorre de forma natural através do tempo, mesmo que dentro de sua população exista micro-identificações que formem outros grupos sem, no entanto, destituir a identidade da nação.
Com as micronações, no entanto, a constituição de uma identidade micronacional ocorre de modo mais complexo devido ao caráter puramente artificial da micronação. Como dito, ela surge com o propósito de já ser uma simulação, o que acaba por influenciar que os micronacionalistas não criem elementos originais e novos para suas respectivas micronações, mas sim busquem simplesmente simular elementos preexistentes macronacionalmente, já que a ligação entre macro e micro é inerente à atividade.
Por exemplo, quando se instituem feriados nacionais em uma micronação, quase todas as datas são feriados que já são comemorados macronacionalmente, com exceção de um “dia da fundação”, “dia do Rei” ou datas com significados micronacionais de fato. Então, de carona na simulação política, sociedade e cultura micronacional também acabam por serem formados através da simulação e adaptação.
Mas outros elementos constituídos nas micronações acabam por reforçar elementos de uma identificação entre o indivíduo e a micronação que ele faz parte. A simbologia do Estado, a representação de seus líderes também podem acabar fortalecendo o sentimento de pertencimento àquela entidade.
Em Sancratosia, Kárnia-Rutênia e Ebenthal, por exemplo, há grande uso de elementos visuais para fomentar uma identidade micronacional, por cédulas de dinheiro, selos e peças publicitárias, moedas e afins. Sancratosia também tem como elemento primordial de sua identidade nacional o uso da língua franca nova. Maurícia e Quinta Velha utilizam-se de memórias coletivas, mitos e heróis para a constituição de suas respectivas identidades. Se a micronação não pode contar com um passado repleto de tradição e nem de uma soberania bem estabelecida sobre seus territórios, além de sofrer com um contrato social frágil, ela se utiliza de elementos visuais, das narrativas e de certa dose de marketing para manter forte a imagem de sua identidade nacional, tanto para seus cidadãos quanto para as outras micronações.
No entanto, até a identidade nacional sofre com a fragilidade das estruturas micronacionais. Uma vez que a identidade também é um constructo, demanda um esforço maior para que os Estados micronacionais mantenham seus determinados elementos identitários, diferente dos Estados macronacionais, onde os elementos são assimilados naturalmente pelas suas populações, além de os cidadãos precisam passar por um verdadeiro processo de enculturação, aprendendo e adquirindo valores e comportamentos adequados para o meio micronacional.
Conclusão.
Os projetos micronacionais tem dinâmicas próprias de constituição de seus elementos identitários devido a uma característica de sua gênese: eles surgem para serem simulações e, como tal, acabam (re)aproveitando elementos culturas, sociais e políticos dos Estados macronacionais. Além disso, por serem entidades constituídas do zero, sem uma tradição pautada em um passado comum, as micronações contam com elementos frágeis nas estruturas do Estado, como o contrato social micronacional e a identificação dos indivíduos com o projeto micronacional. Com isso, as micronações que se esforçam para fugir dos elementos simulatórios, acabam por adotar estratégias para constituírem suas respectivas identidades nacionais, tanto para fomentar a identificação com os seus cidadãos mas, sobretudo, para se distinguirem dos outros projetos. Assim, constituem suas identidades através de elementos gráficos, uso de narrativas e memórias coletivas e intensa propaganda nacional, fortalecendo assim a imagem de um todo coeso e homogêneo.
REFERÊNCIAS
FRWIKI. Frwiki, 2022. Artigo wiki sobre micronações. Disponível em: https://pt.frwiki.wiki/wiki/Micronation. Acesso em: 17 de julho de 2022.
SACRO IMPÉRIO DE REUNIÃO, 2022. Página sobre micropatriologia. Disponível em: http://www.reuniao.org/projeto4.0/micr_micropatriologia.htm. Acesso em 17 de julho de 2022.
REVISTA DE MICROPATRIOLOGIA, 2008. FORMAÇÃO ESTATAL E CONTRATO SOCIAL: BREVE INTRODUÇÃO À TEORIA GERAL DO ESTADO MICRONACIONAL. Disponível em: https://micropatriologia.wordpress.com/2008/04/01/artigo-formacao-estatal-e-contrato-social/. Acesso em 17 de julho de 2022.
SANCRATOSIA, 2022. Página sobre Cultura. Disponível em: https://sancratosia.org/culture/.. Acesso em: 17 de julho de 2022
ARQUIVOS LIBERTINOS, 2022. Artigo sobre o Marco da União. Disponível em: https://karniaruthenia.miraheze.org/wiki/Vereinsmark. Acesso em: 17 de julho de 2022.
MICROWIKI, 2022. Artigo sobre o Kupfermark de Ebenthal. Disponível em: https://micronations.wiki/wiki/Ebenthali_kupfermark. Acesso em: 17 de julho de 2022.
PROTOCOLO OFICIAL DE MAURÍCIA, 2022. Protocolo oficial de Maurícia. Disponível em: https://mauritiasprotokol.fandom.com/wiki/Protocolo_Oficial_de_Mauricia_Wiki. Acesso em: 17 de julho de 2022.
REINO DA QUINTA VELHA, 2022. Página sobre o Reino. Disponível em: https://reinodaquintavelha.wixsite.com/quintavelha/sobre. Acesso em: 17 de julho de 2022.